Nos últimos anos, os freios a tambor têm ressurgido em modelos que, até então, utilizavam freios a disco nas quatro rodas. Apesar de parecer um retrocesso tecnológico, essa escolha faz parte de uma estratégia clara das montadoras, especialmente em veículos mais acessíveis e compactos.
Mas por que um sistema aparentemente menos avançado continua sendo adotado por fabricantes como a Fiat, que equipou o Pulse Abarth, seu carro esportivo, com freios a tambor na traseira?
Custos de produção e manutenção: a principal justificativa
A principal razão para o uso dos freios a tambor está diretamente ligada ao custo de produção. Em comparação aos freios a disco, o tambor é mais barato de fabricar e instalar. Montadoras buscam sempre maneiras de reduzir custos, especialmente em modelos que precisam oferecer uma boa relação custo-benefício ao consumidor final.
Além disso, a manutenção dos freios a tambor tende a ser mais econômica e simples. Isso é um ponto crucial para consumidores de veículos de entrada e até mesmo para modelos de segmentos intermediários. Especialistas do setor automotivo, como o engenheiro Fernando Prado, afirmam que “para veículos que não têm como foco principal o desempenho esportivo extremo, os freios a tambor atendem perfeitamente as demandas do dia a dia”.
Desempenho adequado para o uso cotidiano
Embora seja inegável que os freios a disco têm maior eficiência de frenagem, especialmente em condições severas, como em terrenos molhados ou em altas velocidades, os freios a tambor são vistos como suficientes para veículos de passeio que não exigem performances esportivas extremas. A maior parte da força de frenagem é gerada pelo eixo dianteiro, onde os freios a disco são predominantes, já que a distribuição de peso no momento da frenagem desloca a maior parte da carga para a frente do veículo.
Essa lógica é aplicada em carros como o Fiat Pulse, onde o freio a tambor, na traseira, cumpre seu papel com eficiência, visto que o uso cotidiano da maioria dos motoristas não exige o máximo de desempenho dos freios traseiros.
Integração com o freio de estacionamento eletrônico
Outro fator que justifica a escolha dos freios a tambor é a integração simplificada com o freio de estacionamento eletrônico. A adaptação desse sistema em freios a disco é tecnicamente mais complexa e cara, o que pode ser evitado ao optar pelos freios a tambor, que permitem uma implementação mais eficaz e econômica desse recurso, sem comprometer a segurança ou a praticidade do carro.
O caso do Fiat Pulse Abarth: esportividade e economia
Mesmo em um modelo esportivo como o Pulse Abarth, que busca entregar um desempenho elevado, as montadoras optam pelo freio a tambor na traseira para garantir uma relação custo-benefício atrativa. Embora o Pulse Abarth seja promovido como uma opção esportiva no mercado, as expectativas de frenagem e desempenho foram cuidadosamente balanceadas para que a experiência do consumidor seja satisfatória, sem elevar o custo final do produto de forma desnecessária.
O uso de freios a tambor na traseira de um carro como o Pulse Abarth é uma prova de que o componente ainda pode ser eficiente em carros com foco em custo competitivo, mesmo quando se trata de um modelo esportivo. A Fiat parece acreditar que, para o público desse modelo, o freio a tambor oferece a performance necessária para o uso urbano e rodoviário, sem comprometer a segurança.
Desafios em condições adversas
Embora os freios a tambor funcionem bem no uso diário, eles têm limitações quando submetidos a condições mais severas, como terrenos molhados ou frenagens contínuas em alta velocidade. Nesses cenários, freios a disco oferecem maior dissipação de calor e, consequentemente, melhor desempenho de frenagem. Entretanto, a maioria dos veículos que utilizam tambor na traseira não são projetados para esse tipo de uso extremo, o que justifica a escolha.
Ainda assim, é importante que os condutores estejam cientes dessas limitações e ajustem a condução ao tipo de freio de seu veículo. “O freio a tambor pode perder eficiência em frenagens longas ou repetidas, mas no uso normal, ele se comporta de maneira adequada”, afirma Paulo Ferreira, especialista em sistemas de freios.
Tendência de mercado: a volta ao básico
Essa estratégia de retorno aos freios a tambor não é exclusiva da Fiat. Outras montadoras como Volkswagen e Renault também adotaram a tecnologia em modelos populares, como o Volkswagen Polo e o Renault Duster, seguindo a mesma lógica de redução de custos sem comprometer a segurança do veículo.
O mercado de automóveis de entrada e intermediários exige soluções acessíveis, e o freio a tambor cumpre esse papel de forma eficiente, permitindo que as montadoras ofereçam outros itens de tecnologia e conforto, como centrais multimídia avançadas, sensores de estacionamento e sistemas de assistência ao motorista, sem elevar os preços a patamares inalcançáveis para o consumidor final.