A construção da fábrica da BYD em Camaçari, na Bahia, projetada para ser a primeira unidade da marca no Brasil, traz à tona sérias denúncias de maus-tratos e condições degradantes enfrentadas por trabalhadores. Com um investimento de R$ 5,5 bilhões e previsão de conclusão para 2025, o projeto tem potencial de transformar a região, mas relatos de agressões físicas, jornadas exaustivas e falta de condições básicas de trabalho comprometem sua imagem e levantam questões graves.
A revista Quatro Rodas, responsável por trazer parte desse acontecimento ao público, destacou que as informações relatadas apontam para uma violação de direitos trabalhistas que exige atenção das autoridades e da sociedade.
Um cenário de tensão e descaso
No canteiro de obras, operários relatam que a rotina ultrapassa as 12 horas diárias, muitas vezes sem os equipamentos de proteção adequados. Entre os 500 trabalhadores chineses contratados por empresas terceirizadas, surgem denúncias de alojamentos superlotados, sem divisão de gênero, banheiros em condições precárias e até violência física. Segundo relatos, é comum que mestres de obras recorram a chutes e socos como forma de punição por atrasos nas tarefas.
Imagens obtidas mostram operários bebendo água contaminada diretamente de poças, expondo a falta de acesso a itens básicos. Além disso, vídeos documentaram situações de agressões físicas, incluindo um trabalhador sendo derrubado no chão após um chute pelas costas, episódio ocorrido em outubro deste ano.
Empresas terceirizadas no centro das denúncias
A construção da fábrica envolve três empresas terceirizadas que contratam mão de obra chinesa: Jinjiang Group, Open Steel e AE Corp. A Jinjiang Group, responsável pela terraplanagem, emprega cerca de 280 trabalhadores, sendo esta a empresa com mais relatos de violações. Já a Open Steel, com 100 funcionários, e a AE Corp, com 90, atuam na montagem das estruturas metálicas.
No entanto, todas enfrentam acusações de desrespeito às leis trabalhistas brasileiras. Entre os casos reportados, destaca-se a prática de jornadas sem pausa adequada para alimentação, com refeitórios improvisados nos próprios locais de trabalho. Isso não apenas compromete a saúde dos operários, como também viola direitos assegurados pela legislação brasileira.
Barreiras de comunicação agravam a situação
A falta de fluência em português por parte dos trabalhadores chineses cria um obstáculo significativo para formalizar denúncias. Muitos dependem de intermediários para relatar abusos, o que dificulta a resolução rápida dos problemas.
Por outro lado, os trabalhadores brasileiros enfrentam jornadas mais regulares, mas relataram testemunhar condições alarmantes impostas aos colegas estrangeiros.
A resposta da BYD
Em resposta às acusações, a BYD declarou que as imagens e relatos foram recebidos com indignação, e que ações imediatas foram tomadas. Segundo a empresa, os responsáveis pelos maus-tratos foram afastados, e reforços na fiscalização das obras estão sendo implementados para garantir o respeito às leis trabalhistas e à dignidade dos trabalhadores.
A fábrica em Camaçari é apresentada como um marco estratégico para a marca, com a promessa de gerar 20 mil empregos diretos e indiretos. No entanto, os incidentes levantam dúvidas sobre a supervisão das operações e o comprometimento com os padrões éticos.
Ação das autoridades
No dia 11 de novembro, a Polícia Federal e o Ministério Público do Trabalho (MPT) realizaram uma vistoria no local. Embora o acesso tenha sido limitado e os alojamentos não tenham sido inspecionados completamente, o MPT confirmou que um inquérito está em andamento para apurar as denúncias.