A decisão de declarar um carro como perda total, mesmo após um acidente considerado leve, intriga muitos motoristas. Afinal, por que veículos que ainda poderiam estar em condições de rodar acabam sendo descartados pelas seguradoras?
O motivo está em uma combinação de fatores econômicos, tecnológicos e normativos.
A sofisticação dos veículos e o aumento nos custos de reparo
Nos últimos anos, os automóveis ficaram mais complexos, com a adição de sensores avançados, materiais de alta tecnologia e sistemas eletrônicos sofisticados. Essa evolução, apesar de trazer segurança e comodidade, encarece significativamente os custos de reparação, mesmo em casos de danos aparentemente pequenos. Além disso, materiais como alumínio e compósitos leves exigem técnicas específicas para conserto, que podem ser caras e demoradas.
Por padrão, as seguradoras classificam como perda total qualquer veículo cujo custo de reparo ultrapasse 70% do valor de mercado. Esse cálculo é respaldado pela Resolução Nº 810/2020 do Contran, que regula os critérios de classificação de danos e procedimentos legais para veículos acidentados. Assim, o que poderia ser apenas um arranhão em um para-choque pode se tornar um problema de alto custo, dependendo dos componentes afetados.
Avaliações técnicas e a inviabilidade econômica
Embora um carro em perda total possa ser tecnicamente reparável, as seguradoras priorizam a viabilidade econômica. Isso significa que, se o custo do conserto for muito elevado em relação ao valor do veículo, a indenização ao proprietário é considerada a opção mais lógica. Por exemplo, um acidente que afete os sistemas eletrônicos ou airbags pode demandar um reparo complexo e dispendioso, que muitas vezes ultrapassa os limites estipulados.
Mesmo assim, vale lembrar que, em alguns casos, veículos indenizados como perda total podem ser recuperados e voltar a circular. Batidas na traseira, por exemplo, geralmente não comprometem o motor ou os componentes estruturais, permitindo que o carro seja restaurado com a substituição de peças de funilaria.
O impacto nos veículos premium e elétricos
Os carros de luxo e elétricos estão entre os mais vulneráveis a serem classificados como perda total. No caso dos modelos premium, os altos custos das peças de reposição e mão de obra especializada pesam diretamente na decisão. Além disso, danos aparentemente simples podem comprometer tecnologias integradas, como assistentes de direção e sistemas de navegação.
Já os veículos elétricos enfrentam um desafio ainda maior. Suas baterias, geralmente localizadas no assoalho, são extremamente caras de substituir. Um impacto que danifique esse componente pode elevar o custo de reparo a níveis proibitivos, tornando o conserto inviável tanto para o proprietário quanto para a seguradora.