O Ford Escort, lançado em 1983, chegou ao Brasil com o peso de ser o primeiro carro mundial da Ford fabricado no país. Ele representou um marco significativo na indústria automobilística brasileira, consolidando o Brasil como parte das estratégias globais da montadora.
Mais que um veículo, o Escort trouxe um sopro de modernidade para um mercado até então dominado por projetos americanos como o Maverick e o Galaxie, além de modelos herdados, como o Corcel.
Um projeto europeu no Brasil
O Escort brasileiro era baseado na terceira geração do modelo europeu, trazendo características que o alinhavam com o mercado internacional. Com motor transversal, tração dianteira e o design de “dois volumes e meio”, o carro misturava a funcionalidade de um hatchback com o apelo visual de um sedã.
Disponível em versões de três ou cinco portas e com câmbios de quatro ou cinco marchas, o Escort atendia tanto aos consumidores que buscavam praticidade quanto aqueles que procuravam um estilo mais esportivo.
Uma experiência de direção única
Desde o início, o Escort impressionou pelos seus avanços técnicos e conforto. Em testes realizados na época, destacou-se pela eficiência dos freios, baixo consumo de combustível e boa estabilidade.
Contudo, sua suspensão, adaptada ao asfalto irregular do Brasil, gerava críticas em altas velocidades. Mesmo assim, o modelo agradou e conquistou diferentes públicos, desde famílias até entusiastas da direção esportiva.
O lendário XR3
Entre as versões mais marcantes, o Escort XR3 se tornou um ícone dos anos 80. Equipado com um motor 1.6 recalibrado e suspensão mais rígida, ele entregava quase 10 cv a mais que as versões convencionais, oferecendo uma experiência de direção mais dinâmica. Em 1985, o XR3 ganhou uma versão conversível, consolidando sua posição como símbolo de status e esportividade.
Eficiência econômica e destaque internacional
A versão básica 1.3 do Escort, com motor de 56,7 cv, chamou a atenção por ser o carro nacional mais econômico da época, alcançando impressionantes 18,39 km/l na estrada. Essa eficiência fez do Escort uma escolha popular tanto para consumidores urbanos quanto para quem precisava de um carro confiável para viagens.
O modelo também ganhou reconhecimento internacional. Em 1984, Ayrton Senna participou de um teste com o Escort GL, elogiando seus freios e sugerindo melhorias nos cintos de segurança. O envolvimento de uma figura tão importante do automobilismo reforçou a relevância do Escort no mercado brasileiro.
Evoluções e parcerias estratégicas
Ao longo de sua trajetória, o Escort passou por diversas evoluções. Em 1989, o modelo ganhou um motor Volkswagen 1.8 de 105 cv, resultado da parceria entre a Ford e a Volkswagen na Autolatina. Essa união trouxe ao Escort melhorias em desempenho e dirigibilidade, como maior potência e aceleração.
O modelo também gerou derivados exclusivos para o Brasil, como o Verona, um sedã de três volumes que combinava elegância e funcionalidade. Além disso, a versão de cinco portas, descontinuada em 1986, retornou ao mercado em 1991 com o nome de Escort Guarujá, fabricado na Argentina.
Uma nova era na década de 90
A segunda geração do Escort chegou em 1993 com linhas mais arredondadas e motores mais potentes, incluindo o VW 2.0i de 116 cv para a versão XR3. Apesar da modernização, o modelo original continuou sendo produzido sob o nome Hobby, reafirmando sua popularidade.
Em 1996, a produção foi transferida para a Argentina, marcando o início do fim da trajetória do Escort no Brasil. Mesmo assim, o modelo continuou em linha até 2003, convivendo por três anos com o Focus, que assumiu o papel de carro global da Ford.
Legado do Escort no Brasil
O Ford Escort não foi apenas um carro; ele foi um divisor de águas na indústria automotiva nacional. Ao introduzir um projeto europeu moderno e focado em eficiência e inovação, o modelo não só conquistou consumidores, mas também colocou o Brasil na rota das grandes estratégias globais da Ford. Seu legado é lembrado até hoje como um símbolo de uma era em que a indústria automotiva brasileira deu um grande salto rumo à modernidade.