Nos anos 90, o mercado brasileiro ainda respirava as consequências de uma economia instável, com uma inflação galopante e uma política econômica que frequentemente alterava as regras do jogo. Mesmo diante de tantas dificuldades, a classe média brasileira, sempre ávida por novos modelos de carros, buscava alternativas que combinassem conforto, desempenho e preço acessível para a família. Foi nesse contexto que a Fiat Tempra SW chegou ao Brasil, prometendo um sopro de sofisticação no mercado de peruas.
Lançada inicialmente como um sedã de médio porte, o Tempra já conquistava boas vendas, graças ao seu design moderno e à mecânica bem acertada. A versão perua do modelo, chamada de Tempra SW, foi uma aposta ousada da Fiat para ampliar sua oferta de veículos familiares. Porém, o que poderia ser um grande sucesso acabou se tornando uma história de oportunidades perdidas, impulsionada por fatores econômicos fora do controle da marca.
Design Sofisticado com Influências Europeias
A Tempra SW não passava despercebida. Com um visual refinado, ela se destacava pela elegância e pela atenção aos detalhes. Uma das características mais notáveis da perua era a linha ascendente do teto, que a tornava 7 cm mais alta do que o Tempra sedã.
Além disso, o modelo apresentava um design de carroceria que, embora polêmico, tinha elementos refinados que a destacavam das demais peruas da época. Por exemplo, os vidros rentes à carroceria e os para-lamas mais largos não eram comuns entre os concorrentes e davam um toque de exclusividade ao modelo.
A Tempra SW também tinha um porta-malas generoso, com 509 litros, sendo o maior da categoria. A tampa do compartimento de carga era dividida em duas seções, o que facilitava o acesso aos itens armazenados. Outro detalhe interessante era a entrada de ar no teto, um truque de design para melhorar a aerodinâmica e garantir que o vidro traseiro se mantivesse sempre limpo, mesmo em condições adversas.
Tecnologia Avançada para a Época
A Fiat sabia que para conquistar o público brasileiro, precisaria de mais do que um design inovador. A Tempra SW foi equipada com uma série de recursos que eram um verdadeiro luxo para os padrões brasileiros da época. O painel de instrumentos digital, com mostradores de cristal líquido, foi um dos maiores atrativos, sendo um item inédito no Brasil até então. Esse tipo de painel era exclusivo para o mercado europeu, e sua presença no Brasil tornou a Tempra SW ainda mais sofisticada.
Outro destaque era o ar-condicionado automático digital, um recurso que parecia futurista para os padrões de muitos carros da época, e um grande diferencial para as famílias que procuravam mais conforto em seus veículos. Além disso, as suspensões independentes e o câmbio de cinco marchas garantiam um desempenho estável e confortável nas estradas.
Desempenho e Economia: Pontos Fortes e Fracos
No quesito desempenho, a Tempra SW não era uma campeã de aceleração, mas cumpria muito bem seu papel como um veículo familiar, oferecendo boa estabilidade e conforto. Com um motor 1.8 de 8 válvulas e injeção eletrônica multiponto Magneti Marelli, a perua entregava 109 cv de potência a 5.750 rpm. Embora sua aceleração de 0 a 100 km/h levasse 13,46 segundos e o tempo de retomada de 40 a 100 km/h fosse de 29,68 segundos – o pior entre suas concorrentes – a dirigibilidade era suave, com uma entrega de potência linear, sem grandes surpresas.
As rodas aro 14 eram discretas, mas funcionais, e o sistema de freios a disco nas quatro rodas, com a opção de ABS, garantiam uma boa segurança ao dirigir. No entanto, a curta pista de testes da época impediu que a Tempra SW atingisse a sua velocidade máxima declarada de 188 km/h, algo que poderia ter sido um atrativo para os mais entusiastas.
Uma Oportunidade Perdida: O Fim da Tempra SW no Brasil
Embora a Fiat tenha lançado a Tempra SW com grandes expectativas, as dificuldades econômicas brasileiras acabaram sendo decisivas para o fim de sua produção no país. A abrupta elevação do imposto de importação, que subiu de 20% para 70%, tornou a perua invendável e impediu a continuidade das importações do modelo. A Tempra SW nunca passou de um lote inicial de 1.200 unidades, tornando-se um raro exemplo do que poderia ter sido uma grande aposta da Fiat no mercado nacional.
O Legado da Tempra SW
Hoje, a Fiat Tempra SW é vista como uma perua que não teve a chance de alcançar o sucesso que merecia. O modelo, com suas inovações e design diferenciado, acabou sendo vítima da instabilidade econômica do Brasil, que impediu que um produto promissor se consolidasse no mercado.
Apesar disso, ela permanece na memória dos fãs de carros como um exemplo da sofisticação e ousadia italiana, um veículo que representava o melhor da indústria automotiva europeia na época.