A recente inclusão dos carros elétricos no chamado “Imposto do Pecado” tem gerado intensos debates no setor automotivo. Marcelo Godoy, presidente da Associação Brasileira das Empresas Importadoras e Fabricantes de Veículos Automotores (Abeifa), criticou duramente essa decisão, qualificando-a como uma verdadeira “anomalia do sistema”.
A proposta, aprovada pela Câmara dos Deputados e agora em análise no Senado, traz consigo uma série de implicações controversas para o futuro dos veículos elétricos no Brasil.
Impacto Ambiental e Debate Sustentável
O ponto central da polêmica é a justificativa utilizada para a inclusão dos carros elétricos no tributo. Segundo o grupo de trabalho da Câmara dos Deputados, o impacto ambiental das baterias que alimentam esses veículos seria motivo suficiente para sua taxação. No entanto, Marcelo Godoy discorda veementemente dessa posição.
Em comunicado para o portal autoesporte ele comentou: “A discussão é bateria? Vamos abrir um debate aberto sobre descarte. O próprio Mover tem plano de reciclagem e a bateria hoje vale muito, não vai ter descarte. Vai existir uma forma de reciclar e dar até um terceiro uso para essa bateria”, afirma Godoy.
Godoy acredita que a inclusão dos carros elétricos neste imposto é uma decisão mais política do que sustentável. Ele argumenta que os veículos elétricos representam uma solução viável para problemas ambientais e que penalizá-los com um imposto adicional é um contrassenso.
Estrutura Tributária e Impactos no Setor Automotivo
A estrutura do “Imposto do Pecado” prevê a substituição de cinco tributos atualmente cobrados sobre o consumo (PIS, Cofins, IPI, ICMS, ISS) por três novos impostos: IBS, CBS e o Imposto Seletivo.
Esse novo sistema de tributos deverá ter uma alíquota máxima de 26,5%, afetando diretamente produtos considerados prejudiciais à saúde ou ao meio ambiente, incluindo carros elétricos e a combustão, embarcações, aeronaves, cigarros e bebidas alcoólicas e açucaradas.
Reação do Setor de Veículos Elétricos
Ricardo Bastos, presidente da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), também se posiciona contra a nova tributação. “A carga tributária dos veículos já é muito alta. O IBS já vai impor uma penalidade em torno de 26% sobre eles. Uma carga ainda mais alta não permitirá o crescimento da demanda por veículos em geral e por veículos elétricos em particular, inibindo a escala necessária inclusive para a produção local”, explica Bastos.
Ele acrescenta que a inclusão dos veículos elétricos no Imposto Seletivo é ainda mais absurda, considerando que a eletrificação não prejudica nem a saúde pública nem o meio ambiente. “No limite, deveriam estar no imposto apenas os veículos a combustão que utilizem combustíveis fósseis. Nunca os eletrificados ou movidos a biocombustível”, completa Bastos.
Histórico de Tributação de Carros Híbridos e Elétricos
Em 2024, o Brasil retomou a cobrança do imposto de importação para carros híbridos e elétricos, após quase oito anos de isenção. Inicialmente, as taxas foram ajustadas para 12% nos híbridos e 10% nos elétricos.
No entanto, em julho do mesmo ano, os valores subiram significativamente para 25% nos híbridos, 20% nos híbridos plug-in e 18% nos elétricos. A previsão é de novos aumentos em 2025 e 2026, com fabricantes pressionando para que o imposto retorne aos 35% originais o quanto antes.
Conclusão e Perspectivas Futuras
A decisão de incluir os carros elétricos no “Imposto do Pecado” levanta questões cruciais sobre o futuro da mobilidade sustentável no Brasil. A alegação de que as baterias desses veículos causam impacto ambiental ignora planos robustos de reciclagem e reaproveitamento já em vigor. Além disso, a alta carga tributária ameaça o crescimento do mercado de veículos elétricos, essencial para a transição para uma economia mais verde.
Conforme apontado por líderes do setor, é necessário um debate aprofundado e transparente sobre a verdadeira sustentabilidade dos veículos elétricos e a lógica por trás de sua inclusão em tributos voltados para produtos prejudiciais. O futuro da mobilidade elétrica no Brasil depende de políticas públicas que incentivem, e não penalizem, tecnologias inovadoras e sustentáveis.